domingo, 29 de junho de 2008

Em que nos transformamos?

Será que de repente toda essa nostalgia se transformou em outra coisa?... Onde estamos? Como nos vemos? Em que mudamos? São um monte de perguntas que giram pela minha cabeça... Gostaria que tudo fosse como sempre quis que fosse... E é? Queríamos mudar o mundo... Né? Não sei como, mas acho que queríamos... E existir desde outra ótica, desde outro existir... de não ser o mesmo do mesmo... de que as coisas não simplesmente aconteçam... que as façamos acontecer... que haja uma razão além de uma simples pulsão... que todo o romantismo da existência se tornasse real... e que esse romantismo alimentasse a nossa existência como se fosse uma fonte inacabável de vitalidade... Mudamos nosso jeito de pensar?... O que era e o que é real?... O que era e o que é esquizofrenia?... Nado num mar agitado mas estou feliz porque nado... à vezes não foi tão fácil, às vezes quis parar de nadar... nado e nado e às vezes me deixo levar pelo efeito narcótico do que acredito seja alguma coisa do que sou... do que parece real dentro do lugar onde nem sequer as palavras real, ser ou existir têm sentido... e tudo passa a ter sentido...

sábado, 28 de junho de 2008

Pose

Sou mais imprevisível que Dr. Jekyll ou Mr. Hyde,
Sagaz como Lord Henry,
Melancólico que nem Raskólvikov,
Mais amado que Casanova.

Mas, salve-me de mim.
Sem que eu seja surpreendido com a dor
Que todos sabem
Que eu não sou quem sou.

Sou mais sonhador que Dom Quixote,
Injustiçado como Kafka.
Bêbado que nem Henry Chinaski,
Mais perseguido que Sócrates.

Mas, salve-me de mim,
Sem que eu seja desmascarado pela dor
De saber
Que eu não sei mais quem sou.

Sou mais dolorido que Florentino,
Perdido como Damian,
Procurado como Sidarta,
Mais vaidoso que Dorian Gray.

Mas, salve-me de mim.
Devagar, sem que eu note a minha dor
De ter medo
De nunca me amar como sou.

Sou mais desprezível que Armand de Montriveau,
Mais travestido que Diadorim,
Mais resignado que Mersault,
Mais pesado que Roquetin.

Mas, salve-me, eu insisto
E alargue a minha dor pelo caminho
Para eu saber fingir
Que existo.

Sou mais vigiado que Winston,
Mais místico que Fausto,
Mais moderno que Macunaíma,
Sou mais vazio que Holden Caulfield.

Mas, salve-me de mim
E desses loucos, que eu suspeito,
Que com dor ou sem,
Nunca irão amar ninguém.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Poema Passional

Tinha vontade de matar ele dentro dela.

C r a v a r no peito desse amor ridículo
dez mil facas pontiagudas.

Ver se liquefazer todo o sangue no chão,

até ficar tudo impregnado com o cheiro adocicado
daquele amor coagulado às pressas.

Tinha vontade de cortar aquele olhar de dentro dela.

Ex tir pá - lo feito um tumor.

Depois jogaria-o num pote de vidro transparente
e deixaria sobre a cabeceira da cama
para que se lembrasse de tudo
e visse enfim que o pior já passou.

terça-feira, 24 de junho de 2008

O que me leio

Estico o verbo pra que aja por mim. Envergo a sílaba pra que me soe nova.
Dissolvo o predicado pra que não me engane mais.
...Me faltam vírgulas, me sobram aspas...

A partir de hoje, não vou mais interpretar o que me leio!
Ora, luto pra me parir de novo pra, amanhã, ter que entender tudo outra vez?!!
...Não, comigo não!...

Me estire um verso sobre a mesa e eu o cutelarei mil vezes;
mil pedaços, mil estragos.
Sem culpados.
...Cem mil estórias...

sábado, 7 de junho de 2008

Ode à Torta de Limão

Encontrei uma torta de limão
Perdida num café bonitinho
Esquecido num canto da praça
Cujo as letras do nome
Se misturam com as minhas
Desconfiei de sua cara poética
De boa moça cheia de detalhes
Me senti atraída
Por seus tons bem pastéis
E pelas estrelas cadentes que são
Pequenas raspas de limão sobre a neve de açúcar
Porque uma torta de limão bem feita
É como encontrar o caminho de casa
Num mapa escrito em japonês sem legendas

E ela era bem do jeito que eu imaginara
Aquela festa de textura
Onde tudo se estala na boca
E se dissolve como num espasmo
Delícia que começa
No deslizar do pequeno garfo
Cortando sua imensidão
Delicadamente
Poeticamente
Sem pressa
Apesar da urgência da língua
Em querer o sabor que se insinua
Pelo aroma discreto e certeiro

O primeiro pedaço chega inteiro
Intenso
Quase erótico
A desconcertar o paladar aflito
Percebe-se com precisão
No desenvolver das colheradas
Que uma torta de limão bem feita
É capaz de despertar paixões
Incitar poemas
Descortinar pensamentos
E selar grandes uniões
Percebe-se claramente
A união de quatro texturas
Quiçá mais até
Onde uma se dissolve na outra
Onde uma complementa a outra
Numa festa de similitudes
Que atordoa e delicia

Porque a coisa mais difícil, amigos
É encontrar uma torta como essas
Que reflete em suas pequenas cercanias
A perfeição que Platão tanto falava


Que essa torta de limão seja eterna em meus pensamentos
E que ela possa despertar em todos que a encontrarem
A beleza que é sempre
Ter um desejo realizado
Encontrar o amante amado
E se deliciar com todo deleite
Com as coisas mais simples da vida



Mix Delícia
Rua Soares da Costa, 58 loja A - Praça Saens Peña


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sinestesido

É difícil sentir teu gosto entre o silêncio e o cheiro da cor dos teus olhos.
Te amo no fundo, catando em zigue-zague os teus cílios que sobraram em mim, lamendo os teus gemidos, gemendo os teus aromas. Na gravidade da textura da tua nuca eu acordei. Seco, seu, tão.

Maldita sinestesia. Sinestesua, sinestecrua; sinestecria.

Não temos pilares nem pilastras. Desenhamos nossas (des)estruturas com arcos catenários móbiles que dançam nos compassos de nossos gozos.