terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mar adentro

Há um mar dentro de mim
E ele me causa medo.
Suas profundezas são escuras e misteriosas.

Há um mar revolto dentro de mim
E suas investidas me assustam.
Descobri que há um mar revolto dentro de mim.

Há um mar dentro de mim
E ele me traz alimento.
Suas riquezas são sustento de minha alma.

Há um rico mar dentro de mim
E seus frutos me fortalecem.
Descobri que há um rico mar dentro de mim.

Há um mar dentro de mim
E ele me provoca alegria.
Suas ondas são brincadeiras e cócegas.

Há um mar encantado dentro de mim
E seus ritmos me fazem ser de novo criança.
Descobri que há um mar encantado dentro de mim.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Verborragia

"Não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego" – Gabriel Garcia Marquez

“Eu nunca te disse, mas agora saiba, nunca acaba, nunca”. Já percebeu que o Caetano separa as sí-la-bas quando canta? – Sei que você emudece rezando para estar surda, sei que fico me repetindo horas e já sei, vou abaixar o rádio. - Quero tanto poder ainda te fascinar e apesar da gente se amar tanto, o relacionamento acaba. Não entendo bem de lógica também.


Eu não posso me deixar, não há formula, é só um jeito sem jeito. Amor, não quero me separar. Mas você acha que só com amor não dá, só com moral também não dá certo. Você anda por aí vestida como uma beata atéia, confuso demais, cheia de ai-meu-deus! Desculpa.


Não! Estou te falando. Tenho certeza, hedonismo eu já tentei e sei que não dá, na amizade também não dá, dura muito, mas acaba também. Romance você já experimentou e sabe como é, acaba rápido e totalmente sem romantismo. Na boemia não dá, você não sabe beber. Acho que não dá. Feliz é mentir, tristeza é tortura, relacionamento aberto é mentira, casamento é moralismo.


Sabe qual é a tragédia da vida? O amor começa num estalo e dura para sempre. Já o relacionamento nasce com o tempo e morre nele mesmo. Nada versa o amor, ele é muito verborrágico. Nada versa, nem o tempo e nem essa pressa, essa velocidade das coisas, nada o afeta. - Amor, ainda está ai? Está me ouvindo? Ah tá!. - Pensei que a ligação tinha caído, amor, a gente vai se separar. – A velocidade me assusta.


Você-ainda-estará-comigo-quando-a-gente-não-estiver-mais-junto?- Eu sei que é uma pergunta difícil. – Você ainda me dá de presente aquele cd do Gilberto Gil? Posso passar na sua casa, mesmo depois do fim, para você tocar no piano Ponteio para mim? E nos dias de tédio o que faço? – O amor tem o seu próprio tempo. – Então, antes de ir, grava uns filmes para mim naquele seu vídeo-cassete antigo? E no cinema, poxa, você vai comigo? - Eu quero a velocidade das coisas, essa calmaria me assusta.


Já separei uns sonetos para ler que falam sobre isso. Por que? Não sei. Nem sei se ajuda. Caetano canta mesmo separando as sílabas, ouviu? Mas tá tão baixo. – Você está chorando? Ah! Pensei, desculpa. Tudo bem, desculpa por pedir desculpa. - Quando a gente terminar vou escrever como dói te perder.


Quero correr para dentro de você, mas me sinto numa esteira. – Meio sentimentalista, né? Quase um Dom Quixote. – Quero guardar você, mas nada mais parece caber aqui em casa, sim, eu sei, tenho ainda aquele livro velho que você me deu no meu aniversário, só com o seu nome, sem dedicatória. Esse ano você não me deu presente de aniversário, andamos meio sem tempo mesmo.


“Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior”.- Ouviu? Agora cantou sem separar as sílabas. – Te amo tanto, odeio a eternidade disso. Não tem lógica, não tem moral, vou explodir, juro! Vou me arrebentar em lágrimas daqui a dois segundos. Desde que fomos ao cinema aquele dia e percebemos que vamos nos separar, ganhei uma nova mania, sabia? Fico coçando o meu braço o dia todo, assim, tá arranhado, é..., tem razão. “Sei que deve ser aquela minha típica mania”. Não é ironia, não. Aquela-mania-de-dar-muita-importância-para-o-que-não-tem-importância-nenhuma.


Pronto, choro! Quero voltar a ser você e eu na mesma pessoa do singular. Mas você nunca foi tão você e eu nunca fui tão eu. Não estou mais grávido de um futuro. Perdi meu fruto. Sim! Como fica meu português sem você? Como fica o que eu ainda não sei que você pode me ensinar, o que eu não sei aprender sozinho, responde: Como fica o que não quer mais ficar?


Daqui a dois segundos chega o pranto. Chega pleno de saudade, querendo atestar que eu nunca deveria te deixar. Essa força óbvia que me faz sufocar, tem me confessado diariamente, você também sabe, né? É, vamos nos separar.


Pronto, pranto...


(Silêncio)


Quero correr na velocidade da luz, passar por você e por tudo até o limite, quando o tempo e sua dimensão não agüentarem mais e eu voltar para um passado, no qual eu estava grávido de você. Num momento delicado, onde não parava de me chutar por debaixo da mesa, dentro de mim. Naquele mesmo bar que me admirou por subir na mesa e berrar, o mesmo que, tempos depois, deixou de me adorar por berrar.


Não estou mais grávido, eu não sou mais você e você não é mais eu. As lágrimas secam, as palavras secam, me calo, não tenho mais nada para falar. Não preciso mais de pílula, nada temos mais nada para guardar, você emudece e eu me torno árido, estéril.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Direito

Para as quatro consoantes


“Foi um pequeno momento, um jeito
Uma coisa assim
Era um movimento que aí você
não pode mais
Gostar de mim direito
Teria sido na praia, medo
Vai ser um erro, uma palavra
A palavra errada”. – Caetano Veloso


Não sei se é o fato de tanta consoante junta me confundir, ou talvez, achar errado tanta vogal sozinha num caminho que eu não sei direito.

Há quem diga que não é falta de sensibilidade com a letra que..., é que, é... não consigo escrever direito.

E quem sabe ler? Quando não é possível saber a palavra exata, o que é sentir direito?

Não é o fato de ser louco, espalhafatoso e você responsável, discreta. É o fato de você perguntar uma coisa qualquer e eu pronto, não sei o que sentir direito.

Grito pela Lapa. Medo! E nem assim chamo sua atenção, me transformo em ordinário, simples, começo aquele papo de otário, e digo: até que está sendo bom. Receio! Não sei o que dizer direito.

E você lendo aquele livro enfadonho, enquanto, eu, falsamente concentrado, num livro qualquer, num momento qualquer, para mim, entre nós. Só de pensar, emburreço, não sei o que fazer com o Direito.

Nada, nada, sou previsível. Nem um relacionamento, quase nada. E eu que quase não gosto e já nem gosto de ter que admitir que eu não sei viver direito.

Simples, difícil, direito, errado, simples, difícil, ser uma coisa qualquer de nexo nenhum, confuso, para você, entre nós, não sei mentir direito.

Agora, me pede para ir embora, irei! Tenho medo do escuro do futuro do mundo, não sei lidar com o normal direito.

Vou! Há de haver um jeito, não sei, te ensinar a aprender, o que eu nem sei direito.

De verdade, não quero ir, não sei o que me deu direito.

Agora fico assim, perdido, sem linha e fugindo. Não sabemos conjugar com exatidão o que dá errado. Deve ser sua frase de transição e seus advérbios, meus provérbios, seus adjetivos, meu signo, sua língua pretérita perfeita, minhas frases feitas. Dá medo ver que eu não sei, o que eu nunca soube, dá medo de ser direito.