sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Se pra voltar a escrever eu preciso deixar você, então eu jogo todos os meus livros pela janela. Esqueço da poesia. Me desfaço da rima. Tiro da minha lista todas as declarações de amor. Tudo pra não atravessar essa arrebentação violenta que é dizer adeus a quem se ama pela última vez. Entrego o dom no mesmo barco como se fosse uma oferenda. Que os deuses saibam o que fazer com ele e que eles me salvem desses cortantes corais. Porque o meu amor não conhece o mar revolto. O meu amor é só calmaria. De cima desse bote inflável antes iate invencível, ele observa de longe a terra que nunca esteve tão à vista. Porque o meu amor sempre foi como aquele maciço vistoso que inspira esperança, com aquela praia deserta na frente. Um lugar paradisíaco que eu gostava de guardar. Mas agora é tudo nevoeiro, barulho de trovão. Céu cinza e preto, com nuvens enormes. Pássaros em revoada. Mar irreconhecível que parece querer destruir tudo o que está em volta. Se ainda tivéssemos um farol. Se nossas velas não tivessem se perdido pelo caminho. Se essas ondas não fossem tão altas, talvez ainda tivéssemos alguma chance. Mas eu não sei andar sobre as águas e faz tempo que esqueci como se pede um milagre. O que me resta a fazer é riscar com giz um sol nesse chão. Ou pelo menos nesse pedaço ainda não molhado por toda essa chuva. Mentira que eu gostaria que fosse verdade. Disfarçar essa agonia não me convém. E mesmo sem te ver, acho até que estou indo bem.”

(.Promessas feitas a giz. 11/06/2010.)

terça-feira, 15 de junho de 2010

A vontade de explicar explica tudo

A vontade de explicar explica tudo:
A inércia, a gravidade, o frio,
a solidão.
Calcula Deus.
Testa seus sonhos,
suas cores e sons.

Também eu sou um teorema!
Todo dia um novo teorema.
Sou a premissa de mim mesmo,
meu argumento e conclusão.

Duvido que algo nisso tudo seja válido...
Mas, não me preocupo mais...
Apenas,
sempre que posso,
mergulho no espontâneo
e brinco de ser eu mesmo nesse mar.