“Às vezes,
O poema me nasce como se fosse
uma azia,
Um incômodo, um engodo.
Um bolo de coisa outra,
Feito com fiapos do que trago
dentro
E com resquícios do que vejo
fora.
E nem sempre ele nasce limpo.
Às vezes ele chega tão imundo,
Que eu o ignoro até ele ir
embora,
Embora eu torça para que os
poemas bons,
Permaneçam sempre.
Saber se um poema é bom
É tarefa árdua
Até para os mais medicados.
Que dirá pra mim,
Que vivo sozinha
Com eles sob as unhas,
Agarrados.
Por isso aprendi a voar,
Que é pra ver com um pouco mais
de distância,
Porque um poema é bom.
Porque o poema bom não avisa
hora,
Não provoca desmaio.
Poema bom não pede pra ficar:
Ele finca sua beleza
Sem dar tempo pro rabisco, pro
ensaio,
Sem nem mesmo olhar pro lado.
Que eu possa ver esse poema de
longe,
E que ele me acene demorado,
Me lembrando de uma vez por todas
Como é que é ter o coração assim,
Todo gramaticado.”
(.Poema do coração gramaticado. 01.02.2013)