sexta-feira, 10 de junho de 2011

.Da inutilidade do amor.


Quanto a mim, o amor se atrasou

Esbaforido e suado

Sem nem cumprimentar os outros

Chegou correndo

Se desculpou pela hora

Mas não olhou para o relógio

Que era pra não dar na pinta


Desejou boa sorte a todos

E tão logo o sinal bateu

Se fechou no seu mundo

Que era aquele seu caderninho de poemas inúteis

Quase tão inúteis quanto o próprio amor


Amor que se expressa no aumentativo

Amor que não mostra a que veio

Amor que se perde no meio do caminho

Porque se distrai com outras paisagens


E eu que sempre quis um amor

Hoje faço uma última oração:

Que ele se perca de mim

Que ele me desenlace

Que ele não me seja mais tão inútil

A ocupar todos os cômodos


Que na sua ausência ele permita

Que se veja a utilidade das outras coisas tão bem-vindas

Dos sabores bonitos

Das viagens benfazejas

Do olhar alheio, tão necessário nesse momento


Porque o amor

No auge da sua inutilidade

Com sua presença concentrada de ácido-sulfuricozante

É capaz de fazer com que meus olhos se tornem inúteis


Inúteis diante de toda beleza indescritível

Que deveria haver em todo o resto

Simples assim


Inúteis diante de toda beleza inquestionável

Que deveria haver

Aqui

Bem dentro de mim


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