Quanto a mim, o amor se atrasou
Esbaforido e suado
Sem nem cumprimentar os outros
Chegou correndo
Se desculpou pela hora
Mas não olhou para o relógio
Que era pra não dar na pinta
Desejou boa sorte a todos
E tão logo o sinal bateu
Se fechou no seu mundo
Que era aquele seu caderninho de poemas inúteis
Quase tão inúteis quanto o próprio amor
Amor que se expressa no aumentativo
Amor que não mostra a que veio
Amor que se perde no meio do caminho
Porque se distrai com outras paisagens
E eu que sempre quis um amor
Hoje faço uma última oração:
Que ele se perca de mim
Que ele me desenlace
Que ele não me seja mais tão inútil
A ocupar todos os cômodos
Que na sua ausência ele permita
Que se veja a utilidade das outras coisas tão bem-vindas
Dos sabores bonitos
Das viagens benfazejas
Do olhar alheio, tão necessário nesse momento
Porque o amor
No auge da sua inutilidade
Com sua presença concentrada de ácido-sulfuricozante
É capaz de fazer com que meus olhos se tornem inúteis
Inúteis diante de toda beleza indescritível
Que deveria haver em todo o resto
Simples assim
Inúteis diante de toda beleza inquestionável
Que deveria haver
Aqui
Bem dentro de mim
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